quarta-feira, 5 de março de 2014

Nova revolução agrícola virá da tecnologia


Empresas que vendem técnicas de plantio orientado por dados querem agora acelerar, simplificar e combinar essas informações


Empresas querer simplificar e melhorar combinação de informações sobre plantio (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

A próxima revolução agrícola virá dos dados coletados por tratores e outras máquinas e processados por computadores, que dirão aos agricultores como aumentar a produção de culturas como milho e soja. É o que preveem as gigantes do agronegócio, que estão se esforçando para lançar novas tecnologias com "receitas de plantios" para os agricultores norte-americanos.

De acordo com uma matéria publicada nesta semana no The Wall Street Journal, alguns agricultores, no entanto, veem a nova tecnologia com desconfiança. Eles receiam que os dados possam ser vendidos para negociadores de commodities, acabar nas mãos de produtores concorrentes ou beneficiar as grandes do agronegócio, que estão entre os maiores entusiastas do plantio orientado por dados. As companhias prometem não fazer uso indevido da informação.

"Há muito valor nessas informações", diz Brooks Hurst, que tem 46 anos e cultiva perto de 2.500 hectares em Tarkio, no Estado americano de Montana. "Tenho medo de que, como agricultores, não seremos nós que colheremos os benefícios."

A matéria mostra ainda que muitos tratores e colheitadeiras já são guiados por sistemas de posicionamento global via satélite (GPS) e plantam sementes em linhas cada vez mais retas, enquanto os agricultores, dispensados da tarefa de dirigir as máquinas, monitoram o trabalho em iPads e outros tablets hoje comuns nas cabines de tratores. Essas máquinas também coletam dados do solo e das lavouras, mas a informação não vem sendo utilizada em todo o seu potencial.


As empresas que vendem a tecnologia do plantio orientado por dados querem agora acelerar, simplificar e combinar todas essas informações com seus registros altamente detalhados de padrões climáticos históricos, topografia e desempenho de culturas. Algoritmos e especialistas analisam todos esses dados e podem dar instruções diretamente a agricultores e máquinas.

Os ganhos devem acelerar à medida que as empresas coletarem dados de mais produtores. Desde 2010, a Monsanto vem testando um serviço de plantio guiado pela tecnologia chamado FieldScripts. Ela está começando este ano a oferecê-lo nos Estados de Illinois, Iowa, Minnesota e Indiana, quatro dos maiores produtores de milho dos EUA. Em julho, Mike Stern, um dos diretores da Monsanto para as Américas, disse a investidores que a empresa começaria a testar o FieldScripts no Brasil este ano.

Ninguém sabe quanto está sendo gasto no desenvolvimento e divulgação desses serviços de plantio orientado, mas 20% do crescimento da Monsanto em lucro por ação projetado para 2018 poderia vir do FieldScripts e outras tecnologias, estima Michael Cox, um dos diretores de pesquisas de investimento da corretora Piper Jaffray Cos. "Vejo isso como uma nova transformação potencial da companhia", diz Robert Fraley, diretor de tecnologia da Monsanto.

Algumas entidades, no entanto, desconfiam destes projetos. A American Farm Bureau Federation, uma associação comercial de produtores dos EUA, alertou seus membros de que as empresas de agronegócios promovendo os novos serviços de plantio têm interesse em convencer os agricultores a plantar mais e talvez levá-los a comprar certas sementes, remédios e equipamentos.

Uma razão para essa desconfiança é o aumento dos preços de sementes observado à medida que a participação de mercado da Monsanto e da DuPont aumentava nos últimos 15 anos, principalmente por meio de aquisições. Essas duas empresas vendem cerca de 70% de todas as sementes de milho nos EUA. No ano passado, o agricultor americano pagou cerca de US$ 292 por sementes de milho por hectare, um aumento de 166% em relação aos cerca de US$ 111, ajustados pela inflação, pagos em 2005, segundo a Universidade Purdue.

Alguns agricultores estudam coletar eles mesmos os seus dados para que possam decidir que informação vender e a que preço. Outros produtores estão se juntando a firmas de tecnologia pequenas para tentar impedir que as gigantes do agronegócio dominem o segmento de plantio orientado por dados.

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