Mulheres acrescentam criatividade e um novo olhar para o mundo da programação, segundo GoogleReprodução/Flickr/lut4rp
O próximo Mark Zuckerberg pode ser uma mulher. Essa é a expectativa de gigantes da tecnologia Google, Yahoo!, Twitter e o próprio
Facebook. A presença das mulheres nesse mercado – conhecido como uma espécie de “clube do bolinha” dos nerds – ainda é tímida. Entretanto, com a popularização das linguagens de computação e o
“boom” das startups em várias nações em desenvolvimento, incluindo o Brasil, as mulheres têm espaço para inovar e construir as próximas ferramentas que vão mudar o mundo.
Dizer que as mulheres estão "chegando" ao mundo da tecnologia é uma mentira. Um levantamento feito pela reportagem do R7 com dados do IBGE indica que a proporção de mulheres formadas em cursos relacionados à tecnologia (Análise de Sistemas, Ciência da Computação, Engenharia da Computação e Sistemas de informação) caiu pela metade entre os anos de 1991 e 2012.
Dez sites para você aprender a programar de graçaNo Brasil, as mulheres constituem 59% da força profissional, mas ocupam apenas 20% dos empregos em Ciência da Computação e áreas semelhantes. Um caso emblemático é o curso de Análise de Sistemas. No ano de 1997, a turma de formandos do curso era quase 40% composta por mulheres. Em 2012, o mesmo curso formou 1.881 alunas, ou seja, 19% do total de diplomados. A estratégia para "levar as mulheres de volta" para a "vida de código" passa por um esforço de empresas como Google.
Com essa intenção, a gigante das buscas está
promovendo o Women Techmakers, uma série de mais de 20 eventos que serão realizados no mundo todo neste sábado (Dia Internacional da Mulher) para celebrar as mulheres que já atuam em tecnologia e estimular outras a investirem na carreira. De acordo com o diretor de engenharia do Google para a América Latina, Berthier Ribeiro-Neto, a presença feminina no time de desenvolvimento aumenta a criatividade e produtividade das equipes.
— Em empresas de tecnologia, a diversidade nas equipes constitui fator crítico para acelerar o processo criativo e a produtividade. Precisamos estimular uma nova geração de mulheres, apaixonadas por Matemática, Física, Química e que no momento de escolha da profissão sejam capazes de sonhar com um futuro brilhante nas empresas modernas de engenharia e tecnologias de informação.
O acham as programadoras?
Com mais de 30 anos trabalhando com tecnologia, a consultora e coordenadora de desenvolvimento de sistemas Marina Ferronato, 55 anos, diz que suas longas horas de plantão e os chamados em momentos de diversão "traumatizaram" seus dois filhos, que não quiseram nem saber da profissão da mãe.
— Nas empresas, quando dá problema no sistema, eles querem alguém que resolva. O foco é chamar quem saiba. Na hora da “guerra” não importa se é homem ou mulher. Na área financeira, eu ficava no trabalho até às 2h, 3h da madrugada e depois um táxi me deixava em casa.
Marina comenta que sofria preconceito e pessoas lhe diziam que "trabalhar com informática era para gente inteligente". Com mestrado em Engenharia elétrica e computação, Marina afirma que a queda no interesse das mulheres pela profissão acontece por conta da exigência constante e também de um machismo familiar.
— Num primeiro momento, existia uma vaidade profissional. O desafio de mostrar que sabia tanto quanto um homem. Você comprava esse desafio e isso era uma motivação. O que a gente percebeu depois de 30, 35 anos, é que a gente trabalhou muito e ninguém ficou rica. Das minhas amigas de profissão, 90% tiveram problemas na família, porque o marido não aceitava, não gostava do ritmo de trabalho tão intenso.
Conheça as melhores empresas de tecnologia para estagiarDez tipos de amigos para você excluir no FacebookProgramadora ou secretária?
Longe dos 30 anos de estrada de Marina, a analista de tecnologia em gerenciamento de redes e sistemas, Ana Caroline Silva, 21 anos, está comemorando seu primeiro mês como funcionária efetiva na área. Antes, Ana já havia estagiado na função de programadora e afirma que sempre foi instigada pelo contato com os computadores desde criança.
— Sempre gostei muito de computador, meu pai comprou o primeiro quando eu tinha oito anos de idade. Ele me deixava mexer em programas como o Paint, mas logo eu já estava fuçando em tudo.
Doodle do Google homenageia o Dia Internacional da MulherReprodução
A analista de tecnologia conta que não tenta parecer com um homem na hora de trabalhar e que isso já até fez com que ela fosse confundida com uma secretária durante uma reunião com clientes. Na empresa, no entanto, as baias rotativas fazem com que ela possa "se misturar" com a equipe da empresa, mesmo sendo a única mulher em um time de 18 colaboradores. A jovem ainda comenta que não sentiu dificuldade para entrar no mercado.
— Nessa área avaliavam muito o seu conhecimento. Às vezes, eu resolvo um problema difícil no trabalho e ouço que as pessoas não esperavam que eu conseguisse superar a expectativa. Acho que temos poucas meninas nessa área, quando aparece alguma, o pessoal fica desconfiado.
Mudando o jogo
O diretor de engenharia do Google para a América Latina diz que as grandes empresas podem ajudar as profissionais a tornar o cenário tecnológico mais atrativo e recompensador para as programadoras. Algumas ações são: jornadas flexíveis, ambiente acolhedor e visibilidade para suas conquistas.
— Mudar tal estado das coisas requer reinventar a imagem das engenharias e das Ciências da Computação no imaginário popular. Alguns passos importantes são: divulgar a presença de mulheres de sucesso nas engenharias e nas empresas de alta tecnologia, como modelos inspiradores para os jovens; expor as meninas à tecnologia desde cedo para familiarizá-las com a área e estimular a contratação de mulheres nas engenharias.
Tão persistente quanto um programador achando os bugs em suas linhas de código, as mulheres têm potencial para mudar essa realidade no mercado de TI, segundo Marina.
— Acho que existe uma característica muito mais feminina que é a persistência. Tem que perder esse medo e enfrentar. Você consegue trabalhar na área sendo feminina. É uma área muito gratificante, nunca fiquei sem trabalho. Sempre tive muitas propostas e escolhas para empregos.
Exemplos de sucesso
Um dos exemplos recentes de sucesso na área é Alexandra Chong, criadora do aplicativo Lulu. Jamaicana, ex-tenista profissional e feminista, Alexandra desenvolveu a rede social de avaliação de homens que ficou famoso no final do ano passado. O “toque feminino” é claramente parte do sucesso do Lulu, segundo a executiva.